Paula Folly Photography
Fotografia e Literatura como forma de expressão.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
O seu ultimo pesadelo
-Eu não queria ter ido... Eu disse que não queria. - O garoto de olhos enevoados, que fitavam o vazio, dizia enquanto se balançava para frente e para trás, sentado na grande e negra poltrona de couro do analista.
-Fique calmo Jake, sei que está sendo difícil pra você passar por isso, tende me dizer o que aconteceu. – O analista ajeitava os óculos e prostrava sua xícara fumegante sobre a mesa de centro. Ele tinha um ar reconfortante, mas com uma impessoalidade dosada, de quem sabia o que devia fazer.
-Não vai adiantar eu te dizer nada... Ela vira atrás de mim de qualquer jeito. – o garoto voltou-se pela primeira vez para o analista, que para seu próprio estranhamento, estremeceu ao recair daqueles olhos cinza profundos.
Jake continuou a fita-lo por alguns segundos, mas quando seus olhos voltaram ao vazio, o sólido consultório de puro mogno dissolvia-se lentamente e fundia-se num turbilhão de cores, confundindo-o e o impregnando de ilusão. Ele já não estava ali, o calor da sala esvaia-se aos poucos, transformando-se num ar gélido de maresia enquanto as cores quentes da madeira e dos vívidos quadros que ocupavam as paredes eram substituídas por cores frias, do mar, da lua, e dos casacos.
A noite estava mórbida, mas as pessoas que circulavam o sombrio cais pareciam cheias de expectativas e empolgação, o burburinho aumentou, quando no horizonte do mar um enorme monstro cinza tampava aos poucos a luz da lua e se aproximava, o grandioso navio Luziu trazia consigo uma áurea austera e perversa que fazia Jake estremecer.
Com um toque sorrateiro em seu ombro, o pai de Jake o conduziu a seguir a multidão que embarcavam no navio atracado.
Jake se lembrava dessa noite, e das que se seguiram dentro daquele navio, como uma enorme nebulosa, de sombras sutis, olhares estranhos e pesadelos persistentes, e é claro ele se lembrava perfeitamente dela. Aquela estranha criatura que se tornara incrivelmente presente em seus devaneios. A cada passada, a cada suspirar do gélido ar europeu insinuava sua presença, como se ela não fosse apenas uma moradora de seus sonhos, seus terríveis sonhos, mas também alguém em seu encalço, alguém em sua sombra e até mesmo em seu reflexo, sobre a sombra de seus olhos cinza sempre aquela imagem, a pele extremamente alva, os cabelos negros e oleosos, rastejante, agonizante, putrefata. Um arrepio subia por sua cervical e os pelos de sua nuca eriçava-se, parecia-lhe que era o único ali que percebia toda aquela languidez.
Mas essa pseudo-passividade não perdurou por muito tempo, na terceira noite de viagem pelos oceanos europeus o navio Luziu foi perturbado, sua inocência difamada e entre seus passageiros a tensão que Jake sentira desde o primeiro contado foi alastrada.
Jake se encontrava em um dos decks laterais, seu olhar recaído sobre a imensidão negra do mar, o queixo encostado na superfície fria do corrimão e os pensamentos oscilavam, para a raiva que no momento sentira de seu pai, por tê-lo levado para aquele inferno, e a saudade de sua mãe que o abandonara e morrera dois meses atrás. Quando o calafrio lhe surgiu novamente à espinha. Ele se virou bruscamente e atrás de si encontrou seu pai, que lhe encarava e o convidava a segui-lo para a suíte.
Jake tentou esboçar um sorriso de afirmação, o que não foi possível, pois no instante seguinte uma outra figura apontou em seu horizonte. Essa muito menos atraente a sorrisos, e rastejante aproximava-se de seu pai, parecia-lhe mais um de seus pesadelos e se ele não estivesse sentindo aquela dor dilacerante na cabeça juraria que era.
Jake tentou gritar para alertar seu pai do perigo iminente, mas sua garganta sangrou e o som não saiu, ficou preso, assim como seu pai nos braços daquela mórbida criatura fantástica. Ele foi arrastado. Arrastado para as profundezas do mar e Jake só pode cair de joelhos e desmaiar de tanta dor.
No dia seguinte já acordara naquele mesmo consultório, encarado por um senhor de nariz adunco e pele macilenta. Durante o período em que estivera desmaiado Jake teve mais um de seus sonhos, esse porem não tão assustador.
-Jake, pode ficar tranqüilo, afinal não existe nenhuma criatura fantástica aqui. – o senhor de pele macilenta dizia, ainda mantendo o profissionalismo, mas com um toque de choque na sua fala.
O olhar de Jake mudara assim que a fala do analista o tirou de um estado momentâneo de êxtase e reflexão: O seu último pesadelo...
-Jake, eu irei te encaminhar para tutores, sei que é difícil perder a mãe e logo em seguida o pai... -
Jake já não o ouvira mais... Várias peças de um enorme quebra cabeças se encaixavam e em sua mente figuras dançavam ao som da maresia. A criatura e ele... Ela o ouvia... Ela lhe cedia atenção... Ela estava refletida em seus olhos... Em suas necessidades... Em sua alma... Ela ERA ele.
Um sorriso apoderou-se do rosto de Jake, e o analista então pode deixar seu profissionalismo de lado, enquanto o sorriso se transformava num riso histérico e por fim... Em silêncio.
O analista se ergueu e caminhou de costas em direção a porta, os olhos cinza o seguiram e ali ele já podia ver outra coisa... Um outro alguém, uma sombra, uma criatura, ela surgira do nada, suas feições sua silhueta, tudo em si parecia ilusão, mas ao mesmo tempo tão real. Ela se esgueirava sobre a regência de um maestro, a controvérsia aparência de um garoto, para a sua face mais sombria, sua alma, sua dor, sua vingança.
O medo extremo apoderou-se dele...
-Onde o senhor vai ?- Jake perguntou com a voz mais inocente que ele já ouvira em sua vida, a porta bateu como num assoprar do vento. -Fique... Fique e participe... Afinal esse será seu último pesadelo.
Paula Folly
domingo, 27 de março de 2011
Derramamento de devaneios.
As vezes o mundo parece mais bonito e o céu ta cinza claro, as vezes eu pego meu casaco e me sinto bem, as vezes é tao facil conviver comigo mesma, é tao bom me sentir legal, qe fica até mais facil olhar pro lado e me ver sozinha.
Eu posso pegar um livro e le-lo em um dia, fecha-lo em meu colo e sorrir, eu posso ouvir minhas musicas e me inspirar,posso tirar fotos pra você, posso escrever coisas e te dar pra ler, mas eu posso olhar para o lado e me ver sozinha e não me sentir pessima por isso, talvez eu me baste, talvez eu estaja aprendendo a ser minha, talvez no fim de tudo isso meu valor seja alto de mais.
Eu posso ser poetica, posso usar de metaforas e eufemismos, posso até rimar, para que assim você se lembre de mim de uma forma tristemente bela, ou so triste, mas não realista, porque para ser sincera minha realidade as vezes me assusta, e provavelmente a você tambem.
Eu posso pegar um livro e le-lo em um dia, fecha-lo em meu colo e sorrir, eu posso ouvir minhas musicas e me inspirar,posso tirar fotos pra você, posso escrever coisas e te dar pra ler, mas eu posso olhar para o lado e me ver sozinha e não me sentir pessima por isso, talvez eu me baste, talvez eu estaja aprendendo a ser minha, talvez no fim de tudo isso meu valor seja alto de mais.
Eu posso ser poetica, posso usar de metaforas e eufemismos, posso até rimar, para que assim você se lembre de mim de uma forma tristemente bela, ou so triste, mas não realista, porque para ser sincera minha realidade as vezes me assusta, e provavelmente a você tambem.
terça-feira, 8 de março de 2011
“A fotografia”
Ela tinha olhos verdes, o tipo de verde que não diz muito sobre a pessoa, um verde misterioso e profundo, e madeixas castanhas desprendia-se em cachos e emolduravam a bela face sorridente.
Ele podia sentir o frio na pele, deixado pelos pingos de chuva ínfimos, que não o tocavam, e nem mesmo caiam, mas ele podia sentir, assim como podia ouvir a música ‘asleep’ que tocava no som desligado, a música emanava-se pelos ares como a fumaça enegrecida presente ali, e a chuva tocava-lhe o corpo causando arrepios, as duas em uma reciprocidade amigável o atingiam.
Algumas lágrimas juntavam-se num choro, não o pranto desesperado, o qual já tivera acostumado um dia, mas apenas uma plangência nostálgica dos tempos que se foram, e que ficaram gravados para sempre, tanto naquela foto como em sua memória.
Charlie se levantou, a velha foto desgastada depositou no bolso interno do terno, afinal escritores sempre usam terno e gravata, tomou mais um gole de seu conhaque prostrado sobre a mesa e voltou-se para a enorme janela de vidro, que cobria uma parede quase inteira, Nova York mostrava-se apática a sua própria apatia e ele não se importava mais.
Seus olhos, ainda lagrimejantes e vermelhos por causa da fumaça e da falta de sono, percorreram o cômodo no qual se encontrava, um escritório bem conservado e bem arrumado se prostrava a sua frente, um computador portátil jazia imóvel em cima da mesa, ao lado da marca circular onde estivera o copo, que agora estava seguro entre seus dedos, uma barra negra piscava numa página em branco na tela, a barra aparecia e desaparecia de maneira inebriante e frustrante, para ele, e ao mesmo tempo. As luzes do monitor eram as únicas acesas no ressinto esfumaçado, que tinha um cheiro agridoce de conhaque, café e cigarros, as paredes eram todas cobertas por prateleiras, a exceção de uma, que tinha uma grande e austera porta de mogno e a outra com a janela toda de vidro pela qual ele olhava nova york anteriormente.
Em uma das prateleiras que estavam repletas de livros, descansava a sua primeira máquina de escrever, ele esboçou um sorriso ao vê-la encarando-o tão veementemente, e se lembrou como em muitas outras ocasiões, mas nessa em especial, qual fora seu real e mais precioso presente naquela mesma noite de festas natalinas.
Fazia muitos anos que ele não via a garota de olhos verdes, e madeixas castanhas e cacheadas, da foto velha e desbotada, depositada agora em seu bolso, mas não havia um só dia em que achasse possível esquecer-se de seu primeiro beijo e seu primeiro e verdadeiro amor.
Ele ainda escrevia e escreveria muitas vezes sobre ela, tanto naquela maquina como em qualquer outra, e foi isso o que ele pensou antes de sentar-se na cadeira de frente a mesa, e começar a digitar de maneira quase frenética.
[Baseado em ‘As vantagens de ser invisível’, Paula Folly]
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